PUBLICIDADE

Pau que bate em Chico

PUBLICIDADE
Alexandre Garcia

Dois grandes jornais amanheceram domingo com editoriais condenando a censura que o Judiciário fez sobre reportagem de Zero Hora, com o escandaloso contracheque de uma desembargadora, de 662 mil reais num único mês. O jornal e a jornalista autora foram condenados pelo próprio tribunal a que pertence a desembargadora a uma indenização – coincidência – de outros 600 mil. O teto, no serviço público, é de pouco mais de 46 mil e a Constituição diz que a istração pública exige legalidade, moralidade, publicidade. A remuneração é, portanto, pública. Ficou parecendo uma vindita, um aviso de não se meter com o Judiciário, como um reflexo de reações do Supremo. O Estadão intitulou o editorial de Uma Casta Acima da Lei e concluiu ponderando que um poder sem limites se torna tirania. A Folha de S.Paulo, no título, chamou de Censura do Judiciário e concluiu que ela serve para intimidar veículos de comunicação e seus profissionais. Reações bem tardias contra algo que se repete nos últimos seis anos.

Quando o Judiciário bloqueou contas nas redes e nos bancos, e até cassou aportes de jornalistas que atuam no mundo digital, não lembro de ter havido editoriais condenando a censura, a intimidação e a justiça em causa própria, como represália por críticas. Como é verdadeiro o que disse o Ministro Moraes anos atrás: quem não quiser ser satirizado, criticado, que não se ingresse na vida pública. Assim como o editorial do Estadão afirmou ser constrangedor ter que repetir o óbvio: não há democracia sem imprensa livre, sinto-me acaciano em ter que repetir o que está na Constituição: “é vedada toda e qualquer censura, de natureza política, ideológica e artística”. 

No entanto, estamos em tempo de avanço de uma ideologia que não tem constrangimento em citar a China como modelo de “regulação” da voz digital do povo. O governo já tem um texto de projeto para inserir censura prévia no Marco Civil da Internet”, sancionado por Dilma em 2015, depois de muito discutido no Congresso. O primeiro o da censura foi dado quando a revista Crusoé foi impedida de circular com capa sobre O Amigo do Amigo de meu Pai, porque implicava um ministro do Supremo. O Judiciário é composto de pessoas públicas que não am crítica. Por isso foi instituído, na prática, o crime de opinião. A consequência é ter uma democracia de fachada, degradada.

O Ministro aposentado do Supremo, Marco Aurélio Mello, chamou isso de “decadência”. Que debilita todos os valores democráticos e fortalece o arbítrio. A democracia só se sustenta com liberdade de expressão e respeito à Constituição. A AGU acaba de pedir liminar ao Supremo “para obrigar as plataformas a interromperem a disseminação de notícias falsas e impedirem a violência digital” segundo a agência oficial. O argumento é incrível: o Marco Civil da Internet não pode ser usado como desculpa pela omissão de censura por parte das plataformas. Já que pegou idosos nos descontos da previdência, o governo agora alega que a censura nas redes é para proteger as criancinhas. Sendo a censura política, os censores de hoje podem ser os censurados de amanhã, como constataram tardiamente a Folha e o Estadão. Pois o mesmo pau que bate em Chico também vai bater em Francisco.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias
Relacionadas

Empresas estão com 140 vagas de empregos e algumas para início imediato

Empresas sediadas no município contratam 149 novos colaboradores nas...

Carreta pega fogo em rodovia de Nova Mutum

As chamas causaram estragos num veículo de carga (marca...

Inscrições para projetos culturais em Matupá terminam amanhã; R$ 160 mil

O programa Viver Cultura vai selecionar sete projetos culturais...
PUBLICIDADE